Para você
De quem eu tenho
Que tirar a venda
Você que anda pela rua
Com os olhos tapados
A mão no rosto
Propositalmente
Você a quem eu seguro
Piedosa
Você que não me vê
Que não me preenche de olhar
Você de quem eu guardei
A conta dos olhos
Os testículos
As unhas dos dedos
Piedosa
Juntei tudo
Numa caixa
Cor-de-rosa
De bijuterias
Você criança
Que não ouve
Meu discurso desorganizado
Você que não enxerga
O tamanho da minha
Proximidade
quinta-feira, 13 de julho de 2017
sábado, 8 de julho de 2017
A sua ausência
Ela é
Perfeitamente razoável
A sua ausência
Ela é sensata
Eu diria
A sua ausência
É um piano de calda
Depositado nos meus
Braços
Um plano bem traçado
Um contrato
Registrado em cartório
Três via rubricadas e
Eu sei
Eu assinei
A sua ausência
É uma voz calma
Que me explica
As dificuldades dos dias
As caracteristicas da vida
Adulta
São Paulo
A cidade que eu escolhi
Mas, que você diz
Que eu não conheço
Que eu não sei nada
Que a vida é difícil
Sabe?
A sua ausência me pede
Maturidade
Me pede paciência
Me fala sobre monges, santos
Não comer com as mãos
Não sujar a roupa
Ao comer
Não deixar de
Tomar banho
Mesmo no frio
A sua ausência é um cozimento lento
Muito
Lento
Do meu fígado
Em uma panela
De barro
Eu parada
Em frente ao fogão
Esperando
A sua ausência é uma conjunção astrológica
Uma resposta aos meus erros
(Minha culpa)
Um castigo
Um lembrete
De que não existe
Pai
Uma crueldade
Uma brincadeira
Uma displicência
Inocente
Que só é perdoável
Em pessoas
Muito ocupadas
(A vida é difícil, sabe?)
A sua ausência
Ela é imensa
Maior
Até mesmo
Que uma lembrança
Até mesmo
Que uma imagem
Até mesmo que a sua
Presença
A sua ausência é
Ainda
Veneno
Um alimento da minha loucura
Do meu exagero
Da minha fantasia mais
Descabida
De uma dança
Sobre brasas
Sobre escombros
Sob um dilúvio
Da minha carência
Profunda
Rasgada
Aberta
Burra
A sua ausência
É o oposto exato
Do meu grito
De uma vingança
Desmedida
Abrupta
Absolutamente imatura
A sua ausência
É a lei que eu não obedeço
É o que o meu corpo
Nega
E ele
Está
Aqui