domingo, 22 de outubro de 2017

Chupo seus dedos
Um a um
Digo que te amo
Com suas unhas arranhando
Meu céu da boca
A outra mão arranhando
Meu útero
Arranhando meus medos
Arranhando meus olhos

-Você não é óbvia
Você não é nada óbvia

Sua voz invade meus ouvidos
Eu eu tenho que gritar

Ninguém cuida de mim, mãe
Ninguém cuida

Vai chegar o dia
Que a minha loucura vai explodir
Na imagem de uma menina
Roendo as unhas dos pés
Na caricatura de uma velha
Desfigurada e corcunda
Num choro incontrolável
Que vai inundar seus ouvidos
E gritar
Dentro da sua cabeça
Na ação
De comer meus próprios dedos
Numa inteireza absoluta
No erro primordial
De ter nascido

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Ando comendo meu próprio estômago
Num ciclo infinito
Comerei também meus filhos
Nascidos da violência
Comerei meu medo
Que é o medo de todas as mulheres da minha família
E andarei sobre brasas
Sobre espinhos
Sobre vidro
Meu medo é a criança
Que irei abortar
Com minhas mãos