sexta-feira, 30 de junho de 2017

Eu monto você paulatinamente
Faço uma dança
Para um boneco inerte
Que ganha vida
Dentro do meu quarto
Gasto assim minha energia
Perco fácil também
E respiro seu hálito artificial
Toda catuaba
Que eu bebo
Num dia de Carnaval
Em São Paulo
Não me faz mais corajosa
Tenho desenvolvido
Esta dança cega
Que não respeita limites
Que comete todos os enganos
A ponto de achar
Que você
Até mesmo existe
Danço com uma venda
Nos olhos
Desajeitadamente
Cruelmente
Sem fim
Danço com um vestido rasgado
Na água que a enchente traz
No meu quarto invadido
Com meus pés machucados
De bailarina
Eu danço cegamente para você
Que nem existe
Danço nua
As costas tortas
Eu sempre fui torta
Absurdamente torta
Pernas que se partem
Asas molhadas
E eu soltando penas
Tenho estado aqui
E falado sobre mim
E meu pequeno coração
De pássaro
Minha cara de pomba
E todos os medos
Que eu escondo
Até tive um sonho
Sobre ser pega
Por um assassinato
Estou transbordando das
Penas que me nascem
Nas costas
Tenho vivido a mutação
Com coragem
Com o rosto escondido
Em uma máscara de pássaro
Como se meus braços enormes
Pudessem bater asas
Eu que
Mal consigo
Manter a cama arrumada
O pensamento aprumado
E começar e terminar o dia
Eu te sigo com o olhar
O seu passo
Bêbado
Poderia abarcar
Seu corpo
Num abraço
Uma mão que acompanha
A coluna
Vértebra por vértebra
A paixão me nasce pela
Boca
E eu afirmo
Mentirosa
Não quero nada
Com seus dedos
Seu fígado
Seus cabelos
Um copo de vinho
Compartilhado
E como você poderia
Entender o que eu falo
Com a boca
Colada na minha?
Palavras são só fugas, pai
E eu não sei de nada
Como você sempre
Disse

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Para ser
Poeta
É preciso
Aprender
A comer
O tempo

quarta-feira, 21 de junho de 2017

A manhã nasce da minha boca
No sonho quase acordado
Quase real
Em que eu sou um cachorro
Dando voltas infinitas
Atrás do próprio rabo
Outro dia eu sonhei
Que era um cão
Morrendo sozinho
Atropelado
No asfalto quente
E acho que essa é a imagem
Mais triste que existe
No espelho eu tento
Não ser tão sombria
Não ser tão sozinha
Mas, eu tenho mãos
E não sei o que fazer com elas
Além de
Segurar meu coração
Em frente a pia
E ele sempre me escapa
Escorrega
Enfim
O tempo é uma bomba
Dentro da minha cabeça
E eu não sei falar sobre nada

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Tem você
No meu pensamento seco
Ao acordar
No momento exato
Em que abro os olhos
E percebo que desaprendi a viver
E isso acontece toda manhã
Todos os dias
Quando o dia nasce
Junto com meus
Flertes suicídas
Agarrada na cama
Pensando em morrer
Só um pouco
Mas, aí tem você
E não é que isso me salve nem nada
Ou que seja diferente
De todos os outros homens
Nos quais eu acordei pensando
O que me soa às vezes
Um pouco deprimente
Mas, nada disso importa agora
Porque tem você
Na hora que bate o relógio
Neste dia e ano exatos
Nas histórias que eu coleciono
Mas, não te contei
E é algo que me ilumina
E me sufoca ao mesmo tempo
Pensar que eu tenho subido esta montanha
E isso é tão bonito
Mas, agora eu só queria
Morder o seu ombro
Devagar
E eu gosto de pensar
Que nas minhas botas de escalada
Picareta na mão
Tenho chegado até os picos
Os corações mais altos
Acompanhada da sua imagem
Nem sempre clara
(às vezes, eu não lembro da sua boca)
Mas, tem você
E isso é indecifrável
É como ninar uma bomba
E comer o próprio coração
De garfo e faca