terça-feira, 30 de maio de 2017

Fracasso diariamente
Na minha luta com o tempo
Fracasso no caminho
Entre o quarto e o banheiro
Minha romaria de auto-perdão
Fracasso em tentar achar alguma coisa
Qualquer coisa
Que eu diga verdadeira
Fracasso em não ser mais que uma criança
Fracasso em tentar mostrar
O lado brilhante da lua
Uma lua do tamanho dos meus ovários
Um filho ao contrário
Me saindo pela boca
Fracasso em não ser mais
Que uma adolescente melacólica
De camiseta preta e pernas finas
Fracasso em não ter nada para dizer
Em ser vazia flutuando no abismo
Fracasso em manter a cama arrumada
E a cabeça no lugar
Fracasso em comer o tempo
De garfo e faca
Fracasso na estranheza
Nas doenças que me mantêm na cama
Em organizar os documentos
Em não ser tão óbvia
Neste poema
Eu ando de mãos dadas com o meu fracasso
E ando chegando em algum lugar
Algum beco escuro
Algum espaço neutro
Sou inteira um erro
Braços, cabeça
Unhas pintadas de vermelho
Sou inteira fracasso
À imagem torta do próprio Criador
Que fracassou ao cuspir o mundo
Sou um erro original
O espaço de um palmo
Entre dois muros

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